sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mais um trecho


Um romance, novela, conto... Não sei qual rótulo melhor comporta a obra e os personagens que me perseguem desde a adolescência, mas só sei que lembrar de "uma história de medo, solidão e mistério" ajuda a me orientar quando escrevo. Uma espécie de homenagem a tantas narrativas do gênero que fizeram e fazem parte da minha trajetória. Segue mais um trecho não definitivo do "Projeto das Luzes Apagadas", como provisoriamente o chamo:

"Elizabeth organizava algumas caixas de materiais que não serviam mais para a casa e precisaria se livrar o quanto antes para deixar o porão mais limpo e arejado. Achou até apostilas de Steven dos seus tempos de faculdade, ainda datilografadas e com marcas de furos de traças. Também escondidos em meios aos papéis estavam rascunhos de desenhos que fazia a lápis antes de partir de vez para o trabalho com os pincéis, por volta dos 12 anos. Mofados e borrados, ela nem se lembrava de que ainda tinha aquilo. Uma mulher delgada, de olhar penetrante, nariz grande, boca sensual, vestido escuro, dos tipos comuns nos anos 20, era do jazz. Viu-se novamente um tanto jovem, em posição semelhante, a que estava agora: sozinha em algum canto da casa ou ao pé de uma árvore grande da fazenda, despreocupada com o tempo e concentrada nas linhas e todas as emoções que uma figura humana deveria ter em uma representação. Um estado de excitação. Era como se a mulher, a qualquer momento, fosse desaparecer de sua frente, assim como alguém que é espiado em uma janela e pode fechar a cortina e não ser visto tão cedo por aquele que o observa curioso. Um voyeur analisando sua própria criatura, limitada pelas bordas físicas do material. Beth amassou os papéis, colocou-os em sacolas plásticas e saiu do porão, deixando a porta trancada".