segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Mais um ano vivido... que bom!





Por mais que tente fugir do assunto, é quase inevitável não fazer uma autoavaliação do ano que termina e os planos para os próximos 12 meses que vão constituir 2017. Ainda mais considerando que acabo de vir do meu 26º aniversário e do Natal. Sei que tem gente "estraga prazeres" que não gosta desse clima de festividade e otimismo, mas eu adoro (por mais que eu tenha meus momentos depressivos durante o ano).
Adoro sim ver que continuo com saúde, família, amigos, trabalho e fazendo coisas que amo, como ler ótimos livros, ver filmes variados, escrever, brincar com animais e passear (mesmo com a falta de tempo). O mundo é um lugar enorme e assustador de vez em quando, mas permite tantas experiências únicas. Cada tempo vivido não volta mais. Como isso pode ser bom e estranho ao mesmo tempo.
Tivemos, como as retrospectivas da mídia adoram mostrar, péssimas notícias este ano - muita intolerância, guerras, catástrofes, acidentes, decepções políticas em todo lugar e a morte de uma porção de grandes talentos que vão fazer muita falta. Mas também tivemos avanços, obviamente, sobretudo graças aos recursos da Internet e as tecnologias que tornam o mundo cada vez mais prático e permitindo resolver muitos problemas cada vez mais rápido.
Sigo com meus projetos e espero ter grandes avanços com eles no ano que vem, em especial um projeto literário de longa data (já deixei muitos trechos aqui em postagens anteriores), além dos que continuo desenvolvendo para teatro e cinema. Sim, sou sonhador e busco melhorar a cada dia, como ser humano, como espírito, como escritor. Não importa se vou viver 30 ou 100 anos. O quero é ter sempre a consciência tranquila de ter sido um homem digno e que viveu fazendo o que gostava.
Faça sua vida valer a pena para você e para um mundo melhor. Um Feliz 2017 e a todos que lêem este meu blog! Obrigado mais uma vez pela parceria!

sábado, 12 de novembro de 2016

Hey! Somos todos da mesma espécie!





Uma razão óbvia serviu de gota d'água para que eu resolvesse escrever mais um texto reflexivo aqui. Sim, são as eleições estadunidenses ocorridas esta semana. E o que já parecia um tanto óbvio nos últimos anos ficou ainda mais evidente agora: a crescente e infeliz onda de ódio virtual e uma espécie de divisão entre as criaturas humanas deste planeta. Pode chamar de esquerda e direita, brancos e outras cores, pobres e ricos, conservadores e liberais, nativos e estrangeiros, preconceituosos e mentes abertas... Há uma porção de rótulos que as pessoas tendem a colocar em si próprias e nos outros. De maneira simples poderíamos resumir como uma necessidade de defender seus interesses (e de seus grupos) e se sentir melhores que os outros.
Por mais que eu tente ficar longe dos comentários muitas vezes um tanto insensatos nos vídeos e reportagens online, volta e meia eu acabo parando neles e me decepcionado como uma mediocridade tenebrosa vinda de indivíduos que são da mesma espécie que eu e você(!). Sim, todos seres humanos, habitantes desde mesmo planeta e compartilhando este tempo atual. Como disse no início, muitas vezes isso não passa de um recurso um tanto patético de se proteger do novo, do diferente, daquilo que pode representar uma mudança a um estilo de vida outrora privilegiado. 
Foi assim com os negros até a época da escravidão (mas que ainda deixa ecos desagradáveis), os direitos das mulheres, os portadores de deficiências e doenças que dificultam a interação social, as culturas históricas, com a preservação dos recursos naturais... Enfim, questões que no passado eram ignoradas ou relegadas a um tratamento inadequado. Neste ponto, ao menos podemos constatar o quanto tantas coisas têm sido feitas ao redor do globo para garantir mais igualdade e um mundo mais digno, por mais que isso ocorra em velocidades tão distintas.
Voltando ao gancho inicial, sim, aquele cara estranho foi eleito lá naquele país e não temos como garantir de que forma o mundo vai evoluir ou regredir em sua gestão. Mas torçamos ao menos para que não piore. O planeta agradece. Somos todos moradores daqui. Temos a mesma origem. Não importa sua nacionalidade, características financeiras ou conta bancária. Eu, você e todo o resto somos todos humanos. Isso basta.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Os vazios nossos de cada dia




"A Árvore da Vida" (2011), de Terrence Malick.


O que fazer quando acho que já escrevi sobre praticamente todas as questões que têm ocupado meus pensamentos nos últimos anos? Estive pensando esta semana sobre o que postar aqui neste blog: mais reflexões sobre a sociedade, algum conto novo ou deixar por aqui o rascunho de algum projeto que deixei na gaveta.
Amo escrever e isso é certamente um dos combustíveis de minha existência, seja lá quanto tempo eu vá viver nesta dimensão. Tenho lido incríveis livros e vistos vários filmes memoráveis, sem contar os que ainda estão na lista de espera para serem degustados. Brasileiros, europeus, estadunidenses, contemporâneos, clássicos. Obras de grandes artistas têm me proporcionado prazer e me inspirado a continuar treinando a escrita. Defini como minhas prioridades atuais um romance de horror iniciado lá na adolescência (reta final de revisão) e o roteiro de um drama de época (é claro que sonho que ela será filmada ou gravada num futuro próximo...).
Mas voltando a falar desses vazios que volta e meia nos atormentam e alimentam aquelas bizarras crises existenciais, tenho pensado muito no assunto sob diferentes ângulos. Pode ser o vazio da ausência de criatividade tão comum e torturante de tempos em tempos aos artistas, o vazio emocional de uma carência emocional, o vazio do inconformismo com os problemas sociais e nossa "impotente" capacidade de melhorar o mundo... Nestes meus 25 anos tenho consciência de que meu mundo interior é muito turbulento de ideias e questionamentos e como isso às vezes parece  ser um desafio num mundo tão prático e movido a dinheiro. Há espaço para pessoas sensíveis e observadoras neste planeta?
Enfim, sinto que precisava escrever um pouco neste blog e não perder a chance de soltar as ideias mais uma vez para quem quiser passar por aqui. Opiniões, sugestões e críticas são bem-vindas. Precisamos nos expressar de alguma forma. E este é meu jeito de fazer isso. Até a próxima!

domingo, 4 de setembro de 2016

O que esperar depois de 2016?



"Welcome to your life
There's no turning back
Even while we sleep
We will find you
Acting on your best behaviour
Turn your back on mother nature
Everybody wants to rule the world"
" (Tears for Fears)


Já estamos em setembro e daqui a pouco começa todo aquele ciclo de avaliação do ano, Natal, Ano Novo... E meu aniversário, dia 20 de dezembro, é claro... Mas hoje parei pra pensar sobre o que os próximos anos podem nos reservar considerando tudo que temos vivido ultimamente. Que coisas mais a humanidade pode inventar? O que será das pessoas com toda essa tecnologia disponível e mais um pouco?
Estamos tão imediatistas, narcisistas (assumindo ou não) e preocupados em aproveitar as possibilidades que o sentimento de frustração deve estar cada vez mais óbvio a nossos colegas de planeta. Falo por experiência própria. Como um ser que ama ficção, livros, filmes, curiosidade, História e uma porção de assuntos, tenho uma facilidade a me distrair e me perder no labirinto da Internet toda vez que acesso, seja no notebook, na Smart TV, no Smartphone (engraçado escrever esses nomes) ou no computador tradicioal do trabalho... E pensar que 10 anos atrás, no colégio, os livros da Biblioteca Municipal e as revistas de banca já eram um universo riquíssimo pra mim.
São todos modismos hoje em dia que fica difícil saber quanto tempo dura e qual vai ser o próximo. Pode ser se tornar mais um YouTuber pra falar de qualquer assunto e criticar tudo (de brinco a política internacional), cantar músicas com "letras" sobre muito álcool, pegação e festas sem fim, caçar Pokémon ou qualquer coisa que afaste as pessoas da realidade e tragam alguma espécie de prazer e aplausos de uma plateia virtual. Não que fugir da realidade seja algo muito ruim, afinal o mundo é louco mesmo e já constatamos que não adianta querer levar tudo a sério demais.
Só sei que continuo com minhas humildes redes sociais e este blog onde faço estas reflexões casuais. Nada demais, porém bom pra liberar meus pensamentos e compartilhá-los com quem se interesse. Opiniões são sempre bem-vindas por aqui e na página do Facebook
Se não curtiu, vá  e seja mais um a participar de mais uma página de pensamento livre. A dica-clichê é: seja você mesmo e não mais uma vítima de delírio coletivo. No final, nada disso importa mesmo. Apenas o que você foi e fez ao seu redor. E um ótimo restante de 2016!
E pra fechar, com a dica habitual de vídeo, uma fala do grande Mario Sergio Cortella.




terça-feira, 9 de agosto de 2016

7 filmes que marcaram minha vida (até agora)


Fazer listas de "melhores" é sempre um negócio complicado, mas como o próprio título desta postagem diz, aqui é algo extremamente pessoal. Não se trata de dizer que algo é uma obra-prima, mas é apenas uma relação de filmes que marcaram meus primeiros 25 anos de existência neste mundo.
Como sete é um número representativo de tanta coisa, fiz esta seleção difícil e variada, passeando por épocas e gêneros. Abaixo, comentários breves acompanhados de trailers ou cenas das obras que escolhi de acordo com minha mentalidade do dia de hoje. Os títulos estão em ordem alfabética (não de preferência).



O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968)
Acho que este é o primeiro filme perturbador que vi. Impossível me esquecer de quando o assisti, anos atrás, na adolescência, e fiquei com todas aquelas imagens e informações na minha cabeça. Até que o assisti outra e outra e outra vez e passei a entender muitos detalhes.



Carnaval de Almas (Carnival of Souls, 1962)
Uma das obras mais interessantes que já vi como fã de histórias sobrenaturais e certamente um grande filme também. Apesar do baixo orçamento, a produção surpreende com sua fotografia em preto-e-branco, música tétrica e surpresas no roteiro, sendo referência para mestres como Martin Scorcese e George A. Romero.




Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950)
O melhor filme já feito sobre o próprio cinema, é uma aula de roteiro, ironia e sofisticação. A obsessão de uma atriz veterana para voltar ao estrelado faz com que nos sintamos espectadores e cúmplices ao mesmo tempo, nunca sabendo exatamente se entendemos ou abominamos o comportamento da personagem.



Janela Indiscreta (Rear Window, 1954)
Uma lista de melhores sem Hitchcock não pode existir. O mestre do suspense esbanja o melhor de seu melhor neste clássico com investigação, voyeurismo e o fino humor britânico de sempre. Num cenário muito bem montado, investigamos o personagem principal na resolução de um intrigante assassinato num conjunto de apartamentos. Insuperável.



Papai Pernilongo (Daddy Long Legs, 1955)
Apesar de eu ser um tanto desajeitado, sou fascinado por danças bem coreografadas e executadas. É o caso deste musical dos anos 50 estrelado pelo lendário bailarino Fred Astaire e a encantadora francesa Leslie Caron. Um misto de comédia, romance e musical, esta obra resiste muito bem ao tempo e foi uma grata surpresa vê-la recentemente.



Piquenique na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock, 1975)
Extremamente intrigante e envolvente, esta obra australiana continua a fascinar com seu final aberto e mistério inconcluso. O que houve, afinal, com aquelas meninas? Muito bem dirigido por Peter Weir e com bela fotografia e trilha sonora, é daqueles filmes que ficam na memória.



Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978)
Provavelmente a melhor abordagem da relação entre mãe e filho/a na história do cinema. A parceria Ingmar Bergman, Ingrid Bergman e Liv Ullmann atinge altíssimos níveis de arte e beleza, por mais que a tristeza toque nossos sentimentos mais íntimos. Não importa qual seja a época, relações humanas serão sempre complexas, ainda mais com uma bela música e os tons verdes e vermelhos do outono.


domingo, 10 de julho de 2016

Pensar antes de falar faz bem



As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade.



A frase foi proferida pelo professor e escritor Umberto Eco (1923-2016), falecido recentemente e autor de vários livros notáveis publicados por aqui, como "O Nome da Rosa", "O Cemitério de Praga" e "Número Zero". Este último, seu canto do cisne, tive o prazer de adquirir recentemente. E aproveito para deixar minhas impressões sobre um assunto, que, volta e meia, chego a comentar por aqui.
Pra começar mais uma breve reflexão, preciso dizer que concordo com o pensamento de que é melhor ter excesso de informações do que falta. Como curioso que sempre fui e buscando conteúdos em revistas, livros e na internet (memória de almanaque é uma loucura...), acabo esbarrando em todo tipo de ponto de vista, sejam blogs pessoais como este meu ou simples comentários em vídeos do YouTube e posts do Facebook. E foi justamente dessas observações somadas a coisas que vejo aqui e ali na boca das pessoas ou repercutindo na mídia que tive o interesse e a necessidade de me expressar sobre esse ódio e ignorância que hoje parecem muito mais evidentes do que antes.
Dia desses, por exemplo, vi vídeos de uma jovem (felizmente não me recordo o nome) que falava com o maior orgulho sobre tipos de pessoas e fatos que ela tratava com o maior sarcasmo sem qualquer preocupação com a veracidade e o julgamento correto. E embaixo vinha a horda de seguidores e apoiadores a comentarem, como discípulos a escolher seu líder, o farol duvidoso de um novo tempo. Um tempo que, para certas pessoas (com problema de autoconfiança, imagino), representa a degradação total dos valores morais, da família, das instituições... Mas bem sabemos que preconceituosos e oportunistas sempre existiram, como bem ressaltou Umberto Ecco na frase que abriu este texto, só estão mais óbvios agora em seus perfis virtuais (verdadeiros ou não).
Se uma mulher aparece na mídia porque foi espancada pelo namorado vão dizer que ela gostava de apanhar, se um gay diz que sofreu preconceito vão falar que é "mimimi", se um negro é confundido com assaltante vão falar que ele devia usar roupas que fizessem com que ele parecesse mais sério (!)... São só exemplos de situações que reforçam comportamentos que, por épocas, foram considerados rotineiros, fosse a misoginia, o racismo, a homofobia, a xenofobia, as intolerâncias culturais e religiosas, o desrespeito à natureza. É tanta questão pendente que precisa ser bem resolvida no século 21 que chega a parecer que o mundo é caótico ao extremo e não há qualquer solução, como se precisássemos começar do zero em outro lugar.
Mas sou relativamente otimista porque hoje a consciência de responsabilidade e respeito afloram cada vez mais cedo. Faça o que quiser da sua vida, mas só não faça mal aos outros. Uma frase simples que é basicamente minha forma de "classificar" as pessoas. Não há ninguém absolutamente bom ou absolutamente ruim, mas é muito melhor estar do lado daqueles que pendem para o positivo. O mundo não gira ao redor de mim ou de você ou daquele desconhecido lá. Uma boa dose de sensatez faz bem antes de realizarmos ações que afetem a vida de outras pessoas.
Abaixo indico mais um vídeo do canal Poligonautas, que é excelente e um dos poucos que sigo atualmente. Sempre com vídeos inteligentes sobre temas variados.



quinta-feira, 9 de junho de 2016

Mulheres como inspiração (e cenas de uma nova história)





Sempre que paro para pensar em grandes filmes e peças de teatro que têm me fascinado, percebo que a maioria dela gira em torno de personagens femininas marcantes. Podem ser lindas, pavorosas, sedutoras, trágicas, doces, loucas, frágeis, duronas... Não importa. O que chama a atenção mesmo é o potencial dessas personagens e das atrizes que as interpretam e como revelam o que há de mais fascinante e sombrio nas demais mulheres e também em nós homens, que somos gerados no ventre desse que é o mais complexo dos sexos.
O que seria da dramaturgia sem a Medeia de Eurípedes, Julieta e  Lady MacBeth de Shakespeare e a Miss Julie de Strindberg? Sem citar as mulheres criadas pelo russo Tcheckov... No campo do cinema não dá pra esquecer tantas que nos fascinaram pela forma incrível como foram escritas e encarnadas, passando pela impaciente Norma Desmond de Gloria Swanson em "Crepúsculo dos Deuses" (1950), a frígida Marquesa Isabelle de Merteuil feita por Glenn Close em "Ligações Perigosas" (1988) e, mais recentemente, a Imperatriz Furiosa que Charlize Theron nos brindou em "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015).
Introdução e pequena homenagem feita a algumas dessas mulheres que me inspiram a escrever, deixo o trecho de uma peça que comecei no ano passado e não vejo a hora de concluir e poder assistir encenada pelas mulheres que lhe dão título.
Na cena a seguir, que acontece nos primeiros minutos, vemos o diálogo de duas mulheres que acordaram numa praça pela manhã. Uma já senhora e outra mais jovem. O resto é mistério até o texto integral ficar pronto.



CENA


REGINA
Bernadete, traga o meu café logo. Já devia estar aqui.

Maria José observa, de longe, sem entender qualquer coisa.

REGINA
Meu café, Bernadete! Perdeu a hora hoje? (ela olha para Madalena, ao seu lado) O que é isso aqui ao meu lado? É algum baile de carnaval? Que fantasia horrenda, meu Deus.

MARIA JOSÉ
Eu conheço a senhora? Alguém poderia me explicar como eu vim parar...

REGINA
Pare de brincadeiras, Bernadete. Eu sei que você deve ser a substituta da outra atriz, mas precisa saber suas falas de cor, Bernadete.

MARIA JOSÉ
Meu nome é Maria José...

REGINA
Mas isso não me importa. Se é Maria Cristina, Maria Rita, Maria Maria. O importante é que você está interpretando Bernadete. Ou foi mandada por acaso pra esse teatro?

MARIA JOSÉ
Isso aqui não me parece um teatro. É uma praça qualquer. Eu acordei aqui e a senhora também.

REGINA
E que fantasia é esta? Uma mulher fardada. Isso não existia naquela época. Bernadete era uma governanta. Não isso aí... Tem uma espingarda também?

MARIA JOSÉ
Sim... Essa fantasia aqui é a minha de policial também. É isso o que eu faço. Aponto arma e prendo pessoas. A senhora gostaria de ir também?

REGINA
Regina Cordeiro Magalhães. (colocando os óculos de grau) Realmente você não serve pra interpretar a Bernadete. Ela é muito mais velha que você. Você não deve ter mais do que 35. Eu nem falo porque tenho mais que o dobro. Onde está a outra atriz? (levantando-se) Eu consegui decorar todas as minhas falas. Os ensaios já acabaram? Como é que eu vim parar aqui?

MARIA JOSÉ: É o que eu tenho tentado descobrir durante os últimos minutos, senhora. Eu não me lembro de ter vindo aqui antes. 

REGINA
Será que fomos vítimas daquele golpe? Como se chama aquilo com nome de conto de fadas?

MARIA JOSÉ
É o “boa noite Cinderela”.

REGINA
Mas não é a Bela Adormecida que dorme profundamente? Meu Deus, será que fomos abusadas? Imagine um homem estranho tocando em mim a essa altura da vida... Faz tanto tempo que eu não sinto aquilo. E o pior é que eu não vi nada. Uma dama, num banco de praça, à essa altura da vida... Eu sempre soube que os herdeiros de meu finado marido fariam qualquer coisa pra ficar com os meus bens, mas isso? É um pesadelo? Preciso acordar. Dá uma sacudida em mim.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

A ficção (e por que não vivo sem ela)




Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever. 
(Clarice Lispector)


De vez em quando fico pensando sobre o porquê de eu ser tão apaixonado por narrativas. Pode ser um conto, um romance, um filme, uma peça teatral e até um pequeno desenho a lápis. Desde muito cedo tive a tendência a imaginar cenas e fantasiar sobre uma variedade de coisas que apareciam no meu caminho. 
Como seria viver naquele lugar que só vi numa foto? Como era a vida naquele casarão antes dele ter ficado vazio? Como era a relação daquelas pessoas quando conviviam? Perguntas que vão e vem e me dão combustível para escrever diferentes histórias, muitas vezes um tanto distantes da minha própria realidade. Se é só inspiração ou se há algo de espiritual nisso eu não sei. Mas só sei que sem histórias não vivo.
Lembro-me muito bem dos meus primeiros projetos de ficção na pré-adolescência (e que sei lá por que não vingaram...). Tinha peça de teatro na escola no estilo "Escolinha do Professor Raimundo" (fazíamos vários ensaios aqui em casa) e até a tentativa de escrever uma novela (!) na época em que eu era viciado em ver folhetins e não perdia um capítulo (de reprises a novelas mexicanas). Enfim, isso é passado, mas não posso negar a importância que aquela fase de telespectador aos 10, 12 anos de idade teve no meu processo de formação como "contador" de histórias.
Aos 14, 15 anos fiquei fissurado em filmes e passei a pesquisar e ler sobre muitos filmes que ainda nem havia tido a chance de ver e, de lá pra cá, comecei a alugar e comprar o máximo que pude. Dez anos depois ainda faço lista de clássicos que quero ver, coisa que a internet me ajuda (e muito) hoje em dia, já que muitas das películas podem ser vistas gratuitamente no YouTube e outros sites por aí.
Aqui no blog e sua página do Facebook (curta aqui se ainda não o fez) e meu Instagram (siga aí) sempre estou postando fotos, trechos e cenas de muitos desses livros e filmes que tenho lido/visto ou que estão na minha lista. A curiosidade e o fascínio pela fantasia me levaram aos desenhos e filmes. E destes fui sendo seduzido cada vez mais para o mundo das palavras, como leitor e aspirante a escritor de algumas coisas, como tento me definir para não me sentir muito distante do mundo "real" em que vivo. Se tenho talento e algum futuro só outros podem me dizer, mas certamente já tive e continuo tendo muito prazer com a escrita. E sigo tentando e sonhando e lendo e vendo filmes, afinal, sem ficção parte da minha vida não tem sentido. Para fechar de forma apropriada, abaixo o trailer de um filme, por sua vez baseado em um livro, que fala sobre um escritor. Por hoje é só.




terça-feira, 19 de abril de 2016

Prefiro sempre a Democracia!



Todos falam o que pensam a qualquer momento... Uma faca de dois gumes. Diante de tudo que temos vivido e para os que desconhecem a História do Brasil e saem por aí compartilhando informações equivocadas, é sempre bom pesquisar e ter certeza de que já tivemos um regime ditatorial. Sim! E este fez muitas vítimas, direita e indiretamente. 
Se você escreve a todo momento o que pensa aqui na Internet, saiba (se ainda não sabia) que naquela época era muito diferente. 21 anos sem poder votar para presidente, censura à imprensa e aos artistas e nenhum direito de protestar já são bons argumentos para os leigos no assunto começarem a se aprofundar no assunto antes de serem convencidos por reacionários radicais.
Os dois vídeos abaixo são retratos para nos mostrar aquela triste realidade, cada um abordando pontos de vistas diferentes, mas que se complementam. Sem mais delongas. É a nossa verdade, por mais duro que seja de acreditar nisso hoje.



"O Dia Que Durou 21 Anos" (direção: Camilo Tavares)







"Os Militares da Democracia: os militares que disseram Não" (dir.: Silvio Tendler)


terça-feira, 1 de março de 2016

O que fazer com tanta informação?


     As fontes de informação nos dias atuais multiplicam-se em uma velocidade intensa, conforme aparelhos com acesso à internet são cada dia mais acessíveis. Lemos, escrevemos, compramos, assistimos, conhecemos pessoas, pedimos a pizza e o táxi... Do bate-papo descompromissado com o amigo à criação de canais de vídeos que podem se tornar uma lucrativa fonte de renda para seus idealizadores. Inúmeras são as possibilidades desses recursos indispensáveis na vida que fica mais corrida, tanto para uma criança atarefada precocemente até a pessoa idosa que não perde tempo em aprender o que puder.
     Depois de tantos benefícios apresentados, podemos, então, entrar em um dilema do século 21: tanto conhecimento pode nos tornar indivíduos melhores e mais conscientes de seu planeta ou estaríamos mais para criaturas a caminho de ficar saturadas de tanta coisa? Corremos o risco de perder a concentração  e não deixarmos mais nosso cérebro em estado de relaxamento?



Para discutir o assunto, pude conversar e contar com a colaboração do filósofo, psicanalista e professor universitário Luiz Fernando Fontes-Teixeira (foto). Acompanhe a seguir.


L&I - Durante muitos momentos da História, o acesso a conhecimentos importantes era privilégio de grupos, como religiosos, filósofos e membros da elite, o que vem mudando consideravelmente desde o século 20. O acesso cada vez maior a informações sobre fatos em qualquer parte do globo em tempo real é um avanço significativo nesse sentido. Como você avalia isso do ponto de vista filosófico? Quais os impactos em nossa sociedade?
LFFT - Sua pergunta levanta dois tópicos muito importantes. O primeiro diz respeito ao direito de acesso à informação, à comunicação e ao conhecimento.
A democratização dos meios, com a popularização da internet e o advento das novas mídias, representa um avanço inestimável. Tanto aqueles que antes não possuíam acesso às fontes, quanto aqueles que as possuíam, mas tinham dificuldades de divulgar o conteúdo, podem agora desfrutar de uma ampla rede de compartilhamento, diálogo e mútua colaboração.
Entretanto, não basta apenas disponibilizar o acesso. É também necessário ensinar a ler as mais diversas mídias e absorver os múltiplos conteúdos. Informação não é conhecimento, assim como pouca distância não é proximidade. É imprescindível promover a passagem da recepção da informação para a construção do conhecimento. Esse é o motivo pelo qual observamos hoje a emergência de novas áreas do saber, como a Literacia Midiática, a Educação Midiática ou a Educomunicação, que apresentam propostas de interatividade, leitura crítica das mídias e produção colaborativa de conhecimento reflexivo.
Por esse motivo, somente após uma profunda reflexão a respeito da comunicação e seus meios que poderemos começar a mensurar os limites e alcances desta nova Era. Pessoalmente, acredito que estamos trilhando somente os primeiros passos para compreendermos os novos fenômenos do mundo digital.
Já o segundo tópico é um pouco mais complicado. Refere-se ao poder conferido aos que detêm maior conhecimento. Indo direto ao assunto: o que me parece estar em jogo aqui é a Ética enquanto postura fundamental. E por Ética não me refiro a um conjunto de normas ou preceitos morais de “certo” e “errado”, mas à capacidade de assumir a responsabilidade como um princípio superior.
Quem assume a posição de detentor de um determinado saber, precisa também assumir a responsabilidade por esse saber e por aqueles que não o possuem. Caso contrário, o resultado é inevitavelmente o monopólio do conhecimento, geralmente seguido de ocultação e manipulação de informações, bem como manipulação do próprio povo.


L&I - E no campo da psicologia, como tanta informação ao mesmo tempo num site de notícia, por exemplo, é processado pelo cérebro do indivíduo?
LFFT - O pouco que acompanho dos mais recentes estudos no campo da psicologia parece indicar que, de fato, o acúmulo excessivo de informações tende a transtornar o indivíduo. Psicólogos e neurocientistas gostam de nomear esse fenômeno como “sobrecarga de informação” ou “infotoxicação”. As implicações parecem ser as mais variadas.
Todavia, não podemos esquecer que a veiculação de tais informações está apenas disponível, isto é, à mão. Nós é que nos colocamos à disposição desse excesso e somente nós mesmos podemos interromper o fluxo. Cabe ao sujeito selecionar aquilo que lhe interessa, tomar a decisão e assumir a responsabilidade pelo conteúdo que consome.
A partir do ponto de vista da minha área de atuação, a psicanálise, posso me atrever a argumentar que se colocar à disposição de tantas informações expressa uma posição subjetiva. O desejo é sempre o desejo do outro. Quando se alcança algo desejado, sintomaticamente se passa a desejar outra coisa. O excesso de informação apenas responde à demanda e fomenta essa relação ambígua com o desejo.


L&I - Por conta disso, a ansiedade, como transtorno psíquico, é efetivamente um problema de saúde pública hoje ou se tem tornado alvo fácil da indústria farmacêutica? Estamos realmente nos tornando mais impacientes e preocupados demais em sermos bem vistos socialmente?
LFFT - A ansiedade é um sintoma que revela a dificuldade de lidar com as incertezas, com o inesperado, com aquilo que não podemos nem controlar, nem nomear. Trata-se de um dispositivo de defesa perante o desconhecido, o imprevisível. A ansiedade sempre se manifestou, com ou sem tecnologia. É um velho sintoma presente em uma nova realidade, onde as coisas estão apenas dispostas de maneira distinta. Ainda estamos aprendendo a lidar com essa nova disposição.
A indústria farmacêutica é outro problema. Ela avança com ferocidade, dia após dia, ano após ano. Não podemos, contudo, negar que devemos muito aos esforços empreendidos por essa indústria. Entretanto, assim como a questão da informação excessiva, os fármacos estão apenas disponíveis. Cabe ao sujeito optar pelo seu consumo ou não. Nesse ponto, retomamos também a primeira pergunta, aquela que relaciona o poder com o conhecimento. Os médicos devem ser responsáveis o suficiente pelo saber que possuem e administrarem os remédios certos, na medida certa – não permitindo que o lobby de grandes empresas direcione o tratamento de seus pacientes.
Agora, quanto à impaciência e à preocupação em sermos bem vistos socialmente, acredito que isso sempre ocorreu, assim como a ansiedade. O que muda é que tais fenômenos estão mais visíveis – o que pode ser bom, por um lado, e ruim, pelo outro. É uma questão de meio, não de fim.


L&I - As novas gerações que estão crescendo com as tecnologias sofrem ou sofrerão prejuízos que as anteriores não tiveram por conta do acesso ilimitado a fontes de conhecimento?
LFFT - Não é possível afirmar acuradamente se as novas gerações serão vítimas de prejuízos decorrentes do acesso “ilimitado” ao conhecimento. Qualquer um que afirme isso categoricamente cairá no engodo de uma predição vazia e sem fundamentos.
O que talvez seja possível supor é que a nova geração possui modos de fazer laço social ligeiramente distintos daqueles que outrora conhecíamos, o que exige uma nova perspectiva a respeito do sujeito. Ainda estamos construindo as bases para pensar essa nova perspectiva e talvez permaneçamos “em construção” por ainda muito tempo.
Seja como for, acredito que muito pouco das nossas expectativas em relação às novas gerações serão atendidas. Usamos uma lógica velha para compreender o novo. Uma guinada em nosso olhar se faz urgente se quisermos ensaiar uma resposta digna para essa pergunta.


L&I - Como você enxerga a situação de um indivíduo que descobre e vasculha perfis de tantas pessoas diferentes com o clique de um mouse ou toques de dedos ao celular? Problemas como autoestima baixa e sensação de solidão tendem a se agravar?
LFFT - Esse é outro ponto incalculável. Não podemos prever quais tipos de problemas advém da prática de vasculhar perfis de outras pessoas na internet. Cada caso é um caso. As redes sociais são apenas um novo e mais hábil veículo para um sintoma já muito antigo. Aquilo que agrava a sensação de solidão ou interfere na imagem de si mesmo possui origens que só o próprio sujeito pode investigar e analisar – geralmente, remontam a questões inconscientes anteriores ao uso da internet. As mídias sociais podem apenas deixar esses problemas mais visíveis.


L&I - Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (autor de uma série de livros publicados no Brasil como Tempos Líquidos e Vida para Consumo), vivemos uma espécie de período de ilusões. O virtual pode se sobrepor ao real, fazendo com que, por exemplo, ter uma grande quantidade de amigos numa rede social seja sinal de pertencimento a um grupo, podendo-se acrescentar ou retirar membros a qualquer momento. Que riscos você vê nisso?
LFFT - Bauman é uma das mentes mais afiadas, provocativas e ilustres da sociologia contemporânea. Suas teses dialogam com diversas áreas do conhecimento e suas pesquisas sempre analisam problemas pertinentes aos desdobramentos mais urgentes de nosso tempo. Todavia, acredito que ainda estamos muito longe de pensar com suficiente radicalidade o sentido de termos como “real” e “virtual”. Supor uma cisão entre ambos me parece ingênuo.
Talvez faça sentido para a minha geração e para as gerações anteriores pensar assim. Entretanto, os chamados “nativos digitais” não compreendem o “real” e o “virtual” como estruturas separadas. Ambos fazem parte de uma mesma realidade entrelaçada, que se implica mutuamente. Novamente, insisto, não podemos olhar para os novos fenômenos de hoje através das velhas lentes com as quais enxergávamos o mundo de ontem. Bauman abriu muitos caminhos. Chegou a hora de refletir seriamente sobre suas sugestões e apresentar algo novo, para além dos conceitos e paradigmas com os quais estávamos acostumados.

L&I - Aproveitando sua experiência como pesquisador e professor universitário, de que forma você procura equilibrar a necessidade com a oferta de conhecimento? Que critérios procura utilizar?
LFFT - Uma das tarefas mais importantes de um professor ou de um pesquisador é a de abrir caminhos para os estudantes. Os caminhos devem possibilitar ao estudante o encontro com o inusitado, com aquilo que viabiliza a expressão de sua singularidade. Ademais, devem ainda despertar o seu desejo, permitir que ele seja nomeado e indicar as ferramentas necessárias para que ele o sustente.
A destreza do professor, ou pesquisador, ou ambos, reside na capacidade de inquietar e deslocar os saberes consolidados. Responder às demandas de estudantes apenas faz com que eles se mantenham estáticos, no lugar onde antes já se encontravam. O professor é sempre aquele que incomoda – um sujeito pelo qual nutrimos uma ambígua relação de admiração e repulsa, amor e ódio, crítica e respeito.
É na tensão da articulação entre saberes universais e posições particulares que se concentra a prática docente ou de pesquisa. Nesse sentido, não existe critério melhor na posição de um professor do que a ambivalência dos sentimentos contraditórios.



Luiz Fernando Fontes-Teixeira é Doutor, Mestre e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e integrante do corpo de formação do Instituto da Psicanálise Lacaniana. Atualmente, cursa a Licenciatura em Educomunicação e participa do Programa de Estímulo ao Ensino de Graduação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. O site para contato e mais informações sobre seu trabalho: www.luizfernandofontesteixeira.com.br.

E quem quiser conhecer o sociólogo citado, Zygmunt Bauman, pode ver o vídeo abaixo, da série "Fronteiras do Pensamento".




domingo, 21 de fevereiro de 2016

Como anda o seu tempo?


A Persistência da Memória, de Pablo Picasso

Nos vivemos no tempo - ele nos prende e nos molda -, mas eu nunca achei que entendia isso muito bem. E não me refiro a teorias de como ele se dobra e volta para trás, ou se pode existir em outro lugar em versões paralelas. Não, eu me refiro ao tempo comum, rotineiro, que os relógios nos mostram que passa regularmente: tique-taque, clique-claque. Existe algo mais plausível do que um segundo ponteiro? E, no entanto, basta o menos prazer ou dor para nos ensinar a maleabilidade do tempo. Algumas emoções o aceleram, outras o retardam; às vezes, ele parece desaparecer – até o ponto final em que ele realmente desaparece, para nunca mais voltar. 
(Julian Barnes, O SENTIDO DE UM FIM)


O que você fez no seu dia hoje? Já planejou o amanhã? Está, por acaso, preocupado com que o que pode vir? O tempo pode ser um senhor cruel em nossas vidas. E é impossível para um ser humano não viver controlado por relógios. Escola, faculdade, trabalho, encontro, nascimento e morte. Tudo moldado por minutos, horas, dias, meses, anos. Volta e meia alguém solta aquela máxima "o tempo está voando". Mas já bem sabemos que tudo não passa da nossa percepção e da forma como temos aproveitado cada dia de nossas vidas. E quanto mais compromissos, menos é o tempo do relaxamento e de "fazer nada".
Quando penso na minha vida dez anos atrás, adolescência e colégio, eu me lembro perfeitamente de como era tudo relativamente mais simples. Eram apenas cinco dias de obrigações (e apenas pela manhã). O resto podia ser aproveitado com descanso, lazer, cursos... Hoje, apesar de sobrar parte do meu dia, a vontade é de deixar esse tempo restante livre e preservado. Um tempo para tirar uma soneca, ler, escrever, ver filmes e fazer coisas que eu defino como prioritárias no atual momento da minha existência.
Se nosso tempo já vier definido para este mundo, o que faríamos com ele se, por exemplo, soubéssemos que morreríamos na semana que vem? Parar com tudo já que nada vale mais a pena ou tentar fazer o máximo de coisas nesse mínimo intervalo marcado? Questionamentos ainda mais delirantes poderiam ser feitos em relação a aspectos como realidade paralela (há outra acontecendo conosco neste momento?), viagens ao passado e futuro (está tudo lá ou não?) e tantas outras que nossa mente complexa permitir imaginar quando não encontramos coisas mais importantes a nos preocupar (ou seja, pensando no amanhã novamente...). 
Queremos que um dia chato acabe logo, enquanto aquela noite maravilhosa em boa companhia poderia ser eterna. É, nunca estamos satisfeitos mesmo. E eu termino por aqui, já que os textos neste blog costumam ser breves e terminam com um interessante vídeo relacionado ao tema no final (mais didático, impossível). Assim, você (se é que alguém lê isto aqui) pode fazer outra coisa ou procrastiná-la mais uma vez. O tempo é seu mesmo.




quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Charlotte, homem e cachorro





Pare de me seduzir, olhos verdes de Charlotte!
Pare de me hipnotizar, seus passos, homem estranho!
Pare de seguir meus passos, belo cachorro negro!
Vocês três já deviam saber como me encontro.


Antes dos trinta algo:
Águas turvas da noite
ou na manhã de neblina.
Acho que já sabem que é.


Como eu preciso de mistério,
Mas tamanha agonia sufoca
Não deixem o menino desamparado.
Voltem pra mim quando chamar.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Pequenas tentativas de poemas





    Dos gêneros que estou habituado a ler e procuro escrever com certa frequência, os poemas foram e continuam sendo um grande mistério pra mim. O que faz dos versos algo realmente marcante e que continuam a fascinar muitos anos após a morte de seu autor? Que Drummond, Emily Dickinson ou Maiakovski são grandes nome do gênero é fácil dizer. Temática, revelação da alma e sentimentos comuns a nós humanos, métrica, sutileza... Inúmeros são os recursos utilizados e os critérios de avaliação de estudiosos da literatura. 
   De qualquer forma, humildemente, deixo alguns "pedaços" (oito propriamente) que escrevi ao longo dos últimos cinco anos na tentativa de extravasar sentimentos ou simplesmente ver se resultavam em algo. Aí vão...


O DIA E O DESEJO
Um dia acordado
energia boa me toma.
Aquele ombro quente
está ali junto ao teu.
Você quer sentir:
conforto, prazer, ilusão.
Não passa de imaginação.
Nada disso é verdade!
Mais que preciso de sonhos.
Só sonho porque vivo
e vivo porque durmo.


EU VIVO AQUI
Eu chorava enquanto todos riam
Eu era tímido onde todos falavam
Eu não dirigia em meio às máquinas
Eu não me expunha e eles se mostravam
Eu apreciava o simples mas todos só compravam
Eu tentei a vida, percebi que acabou quando a morte chegou.


O CORAÇÃO TEIMA EM BATER
Estando à procura de olhares
Daqueles que não fujam dos meus
Os corpos que ali perto estão
Mas de uma forma longe parecem
Ansiando por aquela visão que atrai
Já tentei ignorar esse meu hábito
Mas como é que vou fugir de mim?

Pensei que aqui não poderia mais ficar
Já foram vezes demais o coração doendo
E eu já tolamente pedi pra ele parar
Que não me cause mais a tal dor não
No repouso de uma noite quero estar
Querendo ainda aquilo pra não desistir
Somente um pro sentimento, não fuja.


JOHN LENNON AOS 40
Meu ídolo está morto
O poeta sonhador
Ali moro o escritor
E de dor acho vivo
Mas o amor amo mesmo
Não resisto em te olhar
Meu ídolo está morto
Nem 30 eu tenho
Não sei quanto tempo
Por aqui que terei
E ele era o sonhador
E na dor foi, quarenta.


O TÃO BEIJO
Aquilo suave que nos envolve
umedece-nos a alma
a saliva se aprofunda
juntos estamos para o eterno
não sabemos o quanto
de que importa o amanhã
se agora nos tocamos
como dói de tão prazeroso
Aquele beijo que nós demos
Os seus lábios nunca mais
Mas para sempre o sabor
do nosso momento juntos
Bom de ti desfrutar o torpor.


NÃO!
Nunca lhe mostraram daquela lição?
Daquelas como se ensina as coisas da vida.
Você acorda constantemente com a ilusão,
tocado por  aquele momento de despedida
e cansado é da repetição dos ponteiros.
Só te falo que não se faz com ninguém não.

Você arrebenta a corda e cai numa descida,
Sempre alguém te lembra que há regras pra viver,
que tem a vida os seus momentos de ritual.
Porém o que os outros fazem é só entreter.
Transformam sua essência na vitrine do moral
e passam dias e noites sem sequer compreender
que aquilo mal passa de um obedecer do ser.

Aí vem a coisa que denominamos Amor.
Te tocando pela primeira vez na idade inocente.
Mas da raiz se apoderando, mostra o seu rancor.
Cospe nas entranhas te ensinando o que é ser gente.
É pra te mostrar o quão vivo teu eu sofredor
e é pra ainda lhe acusar: Seu inconsequente!

Pesque as palavras que quiser no rio dos solitários,
mas só não tente o desprezo por aquela ter,
pois mesmo pela saída no monte dos calvários,
o sentimento teimoso não hesita em aparecer.
Quando finalmente lhe tecerem a rede da razão,
aquilo que não passava de um falso você
vai se tornar de vez a vil negação.

Estamos crianças demais pra na morte pensar
e anciões não pretendemos ao conhecer o mar.
Mas quando tivermos nossa chance,
vamos é nos dar as boas vindas.
Quebrar relógios e ignorar gente sem nexo.
vamos acreditar sem se importar.
Que o que vale independe de um reflexo.

Acordar-te-ão com a luz negra, 
vindo esta sobre uma branca escuridão,
mostrando de uma vez só que não há regra,
que os corpos diferentes são, 
porém as almas é que não.


QUANDO SE ENCONTRAM CAMINHOS
Não aguento mais essa espera
De ficar só olhando.
Até ter olhares retribuídos,
Só que não ter nada rolando.
Olhar os outros felizes,
Mas comigo só as coisas passando.

Não ter aonde ir,
Perder-se no escuro,
Só querendo partir.
Esquecer tudo por horas,
Ficar na esperança de ter sonhos
E não mais enfrentar essas demoras.

Me arrumar pra ficar bem,
Mas sentir que não estou pra ninguém,
Sem prazo pra isso terminar,
Ilusões para um futuro imaginar.
Com tudo só na imaginação,
A realidade é sempre a mesma continuação.

Vou e volto dos mesmos locais.
Me sinto cansado do tédio,
Quero coisas mais reais.
Chega de perder a oportunidade.
Queria só uma chance,
Pra viver na realidade.


ACHO QUE ACABOU
Afago meu cachorro.
Caminho, engravatados medíocres.
presos por elas, correntes de obrigações.
Me vejo sem futuro,
mas olho para o passado
Disseram pra eu ter um futuro.

Afago meu cachorro.
Sorrio para as lembranças,
caio pelas misérias.
Olho para o tempo.
O vento me faz correr.
A chuva limpa.
O sol me amolece.

Afago meu cachorro.
Espero um olhar.
Anseio pela resposta.
Vivo na espera.
O dia acaba.
Noite nada me promete.
Só me põe a dormir na cama,
confortável, lençol frio.

Afago meu cachorro.
Não dirijo a palavra.
Ela sai trêmula,
como se sem força, tímida,
o primeiro beijo de inexperientes namorados.
Beijo suave, interminável,
tal como o sereno da madrugada.

Afago meu cachorro.
A música toca
e os sonhos me tocam a alma de supetão.
A mensagem chega pelo celular.
Lá fora andam meninas sem futuro
prontas para o que preparadas não estão.
Meninos menos ainda.
Só exibem seus corpos para o toque.
Não chegou nada pra mim hoje.

Afago meu cachorro. Ele dormiu.